Pular para o conteúdo

Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul

Início » Comunicação » Luiz Fernando Barboza dos Santos: “Na vida, há coisas mais importantes do que o voto”

Luiz Fernando Barboza dos Santos: “Na vida, há coisas mais importantes do que o voto”

  • por

Luiz Fernando Barboza dos Santos
Procurador do Estado, ex-presidente da APERGS e diretor da ESAPERGS

Ruth Bader Ginsburg e Antonin Scalia foram dois juízes da Suprema Corte Americana. Ela, liberal, e ele, conservador. Tinham uma profunda amizade, apesar do antagonismo de pensamento. Um dia, Scalia levou 24 rosas de presente para Ruth. Alguém o indagou a razão pela qual ele iria presentear alguém que nunca votou com ele nas decisões mais difíceis. Sua resposta foi direta: “Na vida, há coisas mais importantes do que o voto”.

Essa história ilustra virtudes que andam fora de moda no nosso cotidiano: a busca pela convergência, pela tolerância e por saber conviver com pensamentos diferentes.

As redes sociais trouxeram, junto com suas vantagens, um efeito colateral perigoso: a formação de bolhas de convívio virtual. Ali, pessoas só dialogam com outras que pensam de modo idêntico. Nesses espaços, circulam opiniões e informações que servem basicamente como viés de confirmação.

Estamos perdendo a capacidade de dialogar, de aceitar visões distintas e de exercer a necessária conduta empática. São formados grupos fechados e dispostos a defender seus aliados na mesma proporção em que cancelam quem pensa algo que não se coaduna com a ideologia imposta.

Essa conduta de isolamento em bolhas acarreta um aumento da polarização excessiva e irracional, o que resulta no estabelecimento permanente das divergências. Há uma deterioração dos vínculos de amizade e até familiares, além do prejuízo ao debate público, que se tornou raso e imaturo. A soma é a impossibilidade da construção de consensos mínimos ao desenvolvimento de uma sociedade plural.

É imperioso que retomemos nossas capacidades de diálogo, respeito, tolerância e empatia, para que possamos avançar na busca de denominadores comuns e de pontos de convergência. Aquele que pensa de forma diversa não pode ser visto como um inimigo a ser eliminado, mas como um parceiro na busca de um mundo livre e diverso.
Ao não enfrentar esta situação, estaremos condenados a viver em feudos. A escolha compete apenas a nós. Que, na eleição do nosso modelo de convívio social, não esqueçamos que, na vida, há coisas mais importantes do que o voto.

Marcações: