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Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul

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Marcelo Ferreira Costa: “Tempo de despertar”

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Marcelo Ferreira Costa, Procurador do Estado do RS e integrante do Departamento de Direitos Humanos da APERGS

Dia da Consciência Negra. Salve 20 de novembro! Como seria bom se fosse, simplesmente, um dia como “Saint Patrick’s Day”, ou uma “Oktoberfest”: vestir uma roupa temática, comer, beber e dançar como se não houvesse amanhã e, depois, feliz, dormir até acordar! Mas, como ensina o Mestre Gilberto Gil, na música “Zumbi”, a “felicidade do negro é uma felicidade guerreira”. É preciso ultrapassar a dor. Nesta reflexão encerram-se muitas das razões para despertarmos a nossa consciência para a questão do negro na sociedade brasileira. E, se falar sobre isso te incomoda, tenha certeza que, pelo menos no seu subconsciente, seu “privilégio da branquitude”, mesmo de “capitão-do-mato”, sente-se ameaçado.


Sem relativizações, nascer com a pele escura neste país é desassossego. É perigoso demais! É ver o filho sair de casa e ficar com o coração na mão, pois balas perdidas, não eventualmente, costumam acertar alguns “alvos preferenciais”, independentemente do cano do qual saia a bala ou da “calçada” por onde caminhe. Não são poucas as mães pretas que choram o sangue de seus filhos, derramado com a conivência de uma sociedade que não se olha no espelho e, de maneira infantil, às vezes, e, em outras, dissimulada, justifica-se afirmando que o genocídio é “mera fatalidade”. Precisamos, negros e não-negros, ocupar espaços para denunciar as violências sofridas a partir de uma sociedade moldada pela constante tentativa do apagamento étnico, como fez com os índios, com “notável sucesso” e tentam, desde a promulgação daquela que chamam Lei Áurea, primeiro favelizando e, em seguida, criminalizando a vida de pessoas pretas.


Não é simplesmente a promulgação de leis que resolvem os problemas de uma sociedade doente, como é, ao menos está, a brasileira, algo que escrevo guerreiramente feliz e realizado, até certo ponto, com a renovação da Lei de Cotas, que tanto já possibilitou o resgate de famílias inteiras da margem da sociedade. É hora de se renovar a fé, para se continuar na luta pela felicidade, que é, invariavelmente, guerreira. Sigamos!

Consciência Negra é reflexão, é afirmação, de cantarmos por sermos da cor de Machado de Assis, de Carolina Maria de Jesus, de Dandara, de Zumbi, Sílvio Almeida, de Luiz Gama, Gilberto Gil e tantos outros que, contra todas as barreiras construídas pelo racismo estrutural que alicerça a sociedade brasileira são nossos faróis. E, se a felicidade do negro é uma felicidade guerreira, sejamos felizes! Ubuntu!
Seja antirracista.